Percepção / Perception

Hoje senti necessidade de vir aqui. Acho que a minha escrita actualmente se move muito por necessidade. Se acordo com várias frases e pensamentos na minha cabeça que sinto que têm algum encadeamento, sei que é o momento de escrever ou de bombardear alguém com áudios no Whatsapp. Hoje escolhi a primeira hipótese, porque recebi nos últimos meses algumas mensagens de leitores a quererem saber a minha opinião sobre TUDO o que tem acontecido recentemente com o Duque e a Duquesa de Sussex.
Mas hoje, mais do que dar a minha opinião sobre o tema Sussex, porque ela vale o que vale, quero desabafar com vocês, pode ser?
Today I felt the need to come here. I think that my writing nowadays moves a lot out of necessity. If I wake up with several phrases and thoughts in my head that I feel have some chaining, I know that it is time to write or bomb someone with audios on Whatsapp. Today I chose the first option, because in the last few months I have received some messages from readers wanting to know my opinion about EVERYTHING that has happened recently with the Duke and the Duchess of Sussex.
But today, more than giving my opinion on the Sussex topic, because its worth is quite relative, I want to get out something off my chest, can I?
MATT SAYLES / PA MEDIA

Sou uma royal watcher há mais de 20 anos. Não sou perita em realeza. A minha visão sobre este tema e sobre várias pessoas que fazem parte da nossa História actual, ou não tão actual assim, mudou ao longo dos anos. Eu não sou a mesma pessoa que era há 20 anos atrás, não tenho o mesmo conhecimento e não valorizo as mesmas coisas, nem dou a mesma importância a determinados assuntos. Quem segue este blog que fez ontem 9 anos consegue perceber isso muito bem. Sou uma apaixonada por História e por isso a minha noção de realeza vai muito além das redes sociais, fóruns online, imprensa sensionalista, opiniões e argumentos gratuitos. Mas acreditem que comecei também por ai. A minha percpção sobre Realeza vem, acima de tudo de livros, filmes históricos, documentários e de pessoas. Não conheço pessoalmente nenhum membro da realeza sobre os quais aqui escrevo, mas conheço pessoas que conhecem. Ao longo destes anos tive o privilégio de me cruzar com vários tipos de pessoas dentro deste meio de royal watching: apaixonados, conservadores, peritos no tema, pseudo-peritos no tema, curiosos, fanáticos, extremistas, loucos, mentirosos....E digo privilégio, porque todos me ensinaram alguma coisa. Ensinara-me a mudar de perspetiva uma e outra vez, ensinaram-me a ser mais ponderada, a questionar, a relativizar opiniões, a respeitar, e ensinaram-me uma coisa muito importante: ensinaram-me a escolher as minhas próprias batalhas.
Sempre disse que era ridículo a polarização que sempre se viu, e hoje em dia muito mais,  sobre pessoas que não conhecemos, sobre histórias sobre as quais apenas temos uma percepção e sobre uma realidade que muito, muito poucos podem afirmar que conhecem e sabem do que estão a falar.
Eu não conheço essa realidade. E acho que cada vez mais, é por demais evidente a velha máxima de que ninguém pode afirmar o que se passa na vida de outra pessoa. Mesmo que parte dessa vida seja passada no domínio público. Porque todos nós, temos várias caras. Os Príncipes e Princesas não são excepção.
Acho que cada pessoa que comenta, segue, escreve sobre realeza e as suas pessoas, tem que pensar na razão pela qual o faz. O que significa para si? Qual o seu verdadeiro interesse no tema? Uma vez respondidas estas questões, tudo o que possam ler, ouvir ou sentir é filtrado por estas respostas e as vossas "batalhas" estão escolhidas. E há uma separação entre aquilo que vocês valorizam, aquilo que vos acrescenta e faz reflectir e o ruído.
Amigos, isto é válido para tudo na vida, na minha modesta opinião.
E penso que também é importante terem presente que essas respostas pode mudar ao longo do tempo, porque a vida muda, a nossa percepção muda, o nosso conhecimento aumenta (à partida!). E está tudo bem. Repito: está tudo bem!
Em relação à Meghan e ao Harry...
Eu gosto deles. Sempre gostei. Sempre os vi como um casal capaz de fazer coisas bonitas e grandes pelo mundo. Gosto daquilo que eles representam. Gostei da sua dinâmica de trabalho, nos poucos meses que trabalharam em conjunto em representação da família real. 
Fiquei enojada com a maneira como a media e vários anónimos os trataram. Houve racismo, sim. Houve preconceito, sim. Certamente houve muita dor. Muitos problemas graves que mais tarde se tornaram públicos.  Houve ódio. Mas também houve muito amor.
Lembro-me de assistir ao casamento deles em directo. Estava grávida de poucas semanas e assisti ao casamento juntamente com uma grande amiga minha. Eu estava em Portugal , e ela no Brasil. Criámos toda uma expectativa sobre o vestido e ficámos rendidas aquela história de amor. Tenho a certeza de que, tal como nós as duas, milhares de pessoas por todo o mundo viveram aquele dia com alegria no coração e muitos sonhos. E tal como nós, esses mesmo milhares de pessoas estavam genuinamente felizes por eles. Lembro-me perfeitamente de, perante todo o drama familiar que a Meghan estava a passar nessa semana, vários colegas de royal watching no Twitter seguimos o hashtag #YouAreNotAloneMeghan em solidariedade com ela não poder ter o pai presente para a levar ao altar. Havia um sentimento de pura solidariedade, compaixão e empatia no ar. Por tudo isso ouvir alguns anos depois que aquele dia "não foi para eles, mas sim foi um espetáculo para o mundo" foi extremamente injusto de escutar.
Compreendo o que eles queriam talvez dizer, mas a percepção é tudo. Meu Deus, percepção é mesmo a palavra-chave deste assunto.
Oiçam, eu tenho a certeza que o Harry e a Meghan vão trazer coisas muito bonitas ao mundo, tal como sempre achei. Isso não quer dizer que eu aplauda todos os seus feitos, enquanto figuras públicas que são, e que sempre serão. Recuso-me a entrar nessa veneração cega.
Entre entrevistas, podcasts, videos e comunicados revelados nos últimos tempos há muito que podemos aplaudir - como por exemplo a luta contra o racismo, noticias falsas, as acções judiciais contra imprensa sensionalista que inflama, cria e polariza opiniões, isto e todo o trabalho que estão a desenvolver com a sua Fundação Archewell ao nível da desconstrução do estigma que envolve a saúde mental, equidade na  vacinação contra a COVID-19, combate às desigualdades sociais e de género.
Aplaudo e desejo do fundo do meu coração que eles sejam bem sucedidos em tudo o que fazem, porque eles têm de facto um dom. Um dom que poucas pessoas com influência têm
Tenho empatia pelas lutas e desafios que enfrentaram e ainda enfrentam diariamente e pelo sofrimento que passaram enquanto casal e individualmente também. Desde sempre que o Harry foi conhecido pela sua irreverência, rebeldia e era notório o quanto ele se sentia desconfortável por ser quem era, por ter nascido no seio de uma família real. Isto não é novidade para alguém que tenha acompanhado o seu crescimento. Penso que todos os príncipes da sua geração, e até os da geração anterior passaram por fases semelhantes, principalmente os herdeiros e "suplentes". Foram as gerações que acabaram por passar pelo boom da imprensa cor-de-rosa, paparazzi, internet, redes sociais, em algumas das fases mais cruciais e desafiadoras da criação das suas personalidades e decisivas para a formação do seu carácter. Isso trás consequências menos boas, como insegurança, revolta, raiva, como é compreensível.
E acredito que muitos destes príncipes e princesas só passaram a acreditar que conseguiam ter a vida que estavam destinados a ter, a partir do momento em que encontraram alguém, disposto a mudar DRASTICAMENTE a sua própria vida, com quem se conseguiam imaginar a fazer o trabalho que era preciso fazer, a criar uma família estável e protegida ao mesmo tempo e alguém com quem pudessem ser eles mesmos. Foi isso que vi acontecer com o Felipe de Espanha, o Frederik da Dinamarca, o Willem-Alexander da Holanda,  o Haakon da Noruega, a Victória e o Carl Philip da Suécia, o próprio Charles e os seus filhos William e Harry.
Foi isso que o Harry afirmou na entrevista de noivado quando afirmou que Meghan seria maravilhosamente boa no trabalho. E foi maravilhosamente boa. Mas estava também incompreensivelmente mal preparada, ao ponto de ambos mostrarem uma ingenuidade que me deixa a mim, uma perfeita leiga na matéria de como uma monarquia funciona, completamente boquiaberta.
Não consigo entender a maneira repetitiva, descuidada, confusa, muitas vezes contraditória, com que vários tópicos foram abordados pelo próprio Duque e Duquesa ao longo deste último ano.
O Harry e a Meghan não são responsáveis pela interpretação e percepção que as pessoas criam das suas palavras. Mas por isso mesmo, têm que ser responsáveis pelos temas que trazem para cima da mesa, principalmente quando envolvem membros da família real, que dificilmente algum dia, se vão pronunciar sobre o tema e que fazem parte de uma Instituição que sim, pode ter falhado em muitas coisas, mas também lhes deu, principalmente ao Harry, oportunidades, palco, conhecimentos e sim, dinheiro, para aquilo que eles estão a fazer hoje, mesmo que actualmente já não os financiem. Eles são quem são e têm o impacto global que têm porque fizeram parte de algo maior que eles mesmos, algo que os projectou, que os tornou uns privilegiados e sim, globalmente amados.
Algo que não resultou para eles e que eles escolheram deixar com todos os assuntos mal-resolvidos e todas as mágoas que ainda possam carregar no peito. 
Actualmente o Duque e a Duquesa esperam o seu segundo filho e estão envolvidos numa série de projectos milionários, a sua Fundação está a trabalhar a todo o gás e vivem numa mansão onde garantem a segurança e privacidade que tanto valorizam para a sua família (zero ironia aqui). Gozam da liberdade para desmentirem noticias falsas e para viverem uma vida mediante a sua vontade.
Ainda assim, parece haver sempre a necessidade de a cada oportunidade, surgir uma nova declaração, um novo pormenor, um novo desabafo do quanto foram vítimas de um sistema, dos quais não tiveram outro remédio, senão afastarem-se.
Segundo as palavras de Meghan, eles estão a criar uma nova vida que será melhor do que qualquer conto de fadas que podiam ter imaginado.  Segundo Harry, tentar sarar a relação com alguns membros da sua família mais próxima, será uma das suas prioridades.
Que bom para eles. A minha questão é: eles acreditam mesmo nisso? Espero que sim. 

I have been a royal watcher for over 20 years. I'm not an expert on royalty. My view on this topic and on several people who are part of our current, or not so current, History has changed over the years. I am not the same person I was 20 years ago, I do not have the same knowledge and I do not value the same things, nor do I give the same importance to certain subjects. Anyone who follows this blog that celebrated yesterday its 9th anniversary,  can see this very well. I am passionate about history and that is why my notion of royalty goes far beyond social media, online forums, sensationalist press, free opinions and arguments. But believe me, I started there too. My perception of Royalty comes, above all, from books, historical films, documentaries and people. I don't personally know any royals I write about here, but I do know people who do. Over the years, I have had the privilege of coming across several types of people within this royal watching world: passionate, conservative, experts on the subject, pseudo-experts on the subject, curious, fanatical, extremists, crazy, liars ... I say privilege, because everyone taught me something. They taught me to change my perspective over and over again, they taught me to be more thoughtful, to question, to relativize opinions, to respect, and they taught me a very important thing: they taught me to choose my own battles.
I always said it was ridiculous the polarization that has always been seen, and nowadays much more, about people we don't know, about stories about which we only have a perception and about a reality that very, very few can claim to know about.
I do not know this reality. And I think that more and more, the old motto that nobody can affirm what goes on in someone else's life is all too evident. Even if part of that life is spent in the public domain. Because we all have different faces. Princes and Princesses are no exception.
I think that every person who comments, follows, writes about royalty and its people, has to think about the reason why they do it. What does it mean to you? What is your real interest in the topic? Once these questions are answered, everything you can read, hear or feel is filtered by these answers and your "battles" are chosen. And there is a separation between what you value, what adds value and makes you reflect from pure noise.
Friends, this holds true for everything in life, in my humble opinion.
And I think it is also important to keep in mind that these responses can change over time, because life changes, our perception changes, our knowledge increases (hopefully!). And that's OK. I repeat: that's OK!
Regarding Meghan and Harry ...
I like them. I always have. I have always seen them as a couple capable of doing beautiful and great things around the world. I like what they represent. I liked their work dynamics, in the few months that they worked together on behalf of the royal family.
I was disgusted with the way the media and several anonymous people treated them. There was racism, yes. There was prejudice, yes. There was certainly a lot of pain. Many serious problems that later became public. There was hatred. But there was also a lot of love.
I remember watching their wedding live. I was only a few weeks pregnant and I watched the wedding together with a great friend of mine. I was in Portugal, and she was in Brazil. We created a whole expectation about the dress and we were surrendered to that love story. I am sure that, like the two of us, thousands of people around the world lived that day with joy in their hearts and many dreams. And like us, these same thousands of people were genuinely happy for them. I remember perfectly, in view of all the family drama that Meghan was going through that week, several royal watching colleagues on Twitter followed the hashtag #YouAreNotAloneMeghan in solidarity with her not being able to have her father present to take her to the altar. There was a feeling of pure solidarity, compassion and empathy in the air. For all that, listening a few years later that day "was not us, but was a spectacle for the world" was extremely unfair to listen to.
I understand what they meant perhaps, but perception is everything. My God, perception is really the key word on this subject.
Listen, I am sure that Harry and Meghan will bring very beautiful things to the world, as I always thought. This does not mean that I applaud all of their actions and way they deal with certain topics, as public figures that they are, and that you always will be. I refuse to enter this blind idolatry.
Among interviews, podcasts, videos and statements revealed in recent times, there are several things we can applaud - such as the fight against racism, fake news, legal actions against sensationalist press that inflames, creates and polarizes opinions, this and all the work that they are developing with their Archewell Foundation in terms of deconstructing the stigma surrounding mental health, equity in vaccination against COVID-19, combating social and gender inequalities.
I applaud and wish from the bottom of my heart that they are successful in everything they do, because they do have a gift. A gift that few people with influence have.
I empathize with the struggles and challenges they faced and still face on a daily basis and the suffering they experienced as a couple and individually as well. Harry has always been known for his irreverence, rebellion and it was notorious how uncomfortable he was to be who he is, to be born into a royal family. This is nothing new for someone who has followed his growth. I think that all the princes of his generation, and even those of the previous generation, went through similar phases, mainly the heirs and "spairs". It was the generation that ended up going through the boom of tabloids, paparazzi, internet, social meda, in some of the most crucial and challenging phases of the creation of their personalities and decisive for the formation of their character. This has less good consequences, such as insecurity, revolt, anger, as is understandable.
And I believe that many of these princes and princesses only came to believe that they were able to have the life that they were destined to have, from the moment they found someone, willing to DRASTICALLY change their own life, with whom they could imagine doing the job needed to be done, to create a stable and protected family at the same time and someone with whom they could be themselves. This is what I saw happen with Felipe of Spain, Frederik of Denmark, Willem-Alexander of The Netherlands, Haakon of Norway, Victoria and Carl Philip of Sweden, Charles himself and his sons William and Harry .
That's what Harry said in the engagement interview when he said Meghan would be wonderfully good at the job. And she was wonderfully good. But she was also incomprehensibly ill-prepared, to the point of both showing a naivety that leaves me, a perfect regular in the matter of how a monarchy works, completely gaping.
I cannot understand the repetitive, careless, confused, often contradictory way in which various topics have been addressed by the Duke and Duchess themself sover the past year.
Harry and Meghan are not responsible for the interpretation and perception that people create of their words. But for that very reason, they have to be responsible for the themes they bring to the table, especially when they involve members of the royal family, who will hardly ever speak on the topic and who are part of an institution that may have failed them in many things, but it also gave them, mainly to Harry, opportunities, stage, knowledge and yes, money, for what they are doing today, even if they no longer finance them. They are who they are and have the global impact they have because they were part of something bigger than themselves, something that projected them, that made them privileged and yes, globally loved.
Something that did not work for them and that they chose to leave with all the unresolved issues and all the hurts that they can still carry on their chest.
Currently the Duke and Duchess are expecting their second child and are involved in a series of millionaire projects, their Foundation is working at full speed and they live in a mansion where they guarantee the security and privacy that they value so much for their family (zero irony here). They enjoy the freedom to deny fake news and to live a life in their own terms.
Even so, there always seems to be a need in each opportunity to come up with a new statement, a new detail, a new outburst of how much they were victims of a system, from which they had no other way, but to escape.
In Meghan's words, they are creating a new life that will be better than any fairy tale they could have imagined. According to Harry, trying to heal the relationship with some members of his closest family will be one of his priorities.
Good for them. My question is: do they really believe that? I really hope so. 



Comentários

  1. E mais uma vez, através da escrita , conseguimos perceber muitos detalhes de quem a escreve........obrigada Lurdes.......uma opinião clara, fundamentada e consciente de que todos, TODOS , temos lados bons e menos bons........que a vida muda muda muda muda a cada segundo e a nossa forma de a olhar tb o faz...........se o nosso impacto é tão forte que atinge um planeta inteiro, de facto, temos que ouvir e agir mais e falar menos.....porque sempreeeeee o que se fala terá duas interpretações e pode magoar muito pessoas que não merecem ser magoadas....mas, é a vida....e estamos sempre a aprender....daí viver ser tão interessante quando se aprende e evolui pra melhor!! Assim esperamos!

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  2. thank you for your sharing your view. i share it.

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